“Por diversas vezes recebi pessoas em situação de rua, aqui no Fórum. Mesmo tendo gentileza e boa vontade, muitas vezes eu não consegui ajudá-las por não saber o que fazer em determinadas situações. Eu ficava com receio de falar, conversar, mostrar alguma coisa e aquilo ser entendido como uma ofensa. Por isso eu quero fazer esse curso e aprender a acolher melhor todos que chegam aqui, buscando resolver um problema” — essas são palavras do Ricardo Costa, porteiro que atua na recepção do Fórum Lafayette em Belo Horizonte.
Com intuito de preparar os profissionais para esse tipo de atendimento, a Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (EJEF) desenvolveu o curso “Atendimento humanizado no Judiciário mineiro às pessoas em situação de rua”, aberto na tarde desta segunda-feira, dia 15 de maio. O conteúdo é voltado para todos os públicos, preferencialmente aqueles que atuam na “linha de frente” nas unidades do TJMG e, por isso, estabelecem o primeiro contato com pessoas em situação de rua: porteiros, vigilantes, recepcionistas e demais atendentes.
Oferecido na modalidade a distância, o curso está em conformidade com a Resolução do CNJ nº 425 de 2021 e já recebeu mais de 600 inscrições.
Por meio da parceria entre a EJEF, a Direção do Foro e o Comitê PopRua/Jus, foi inaugurada, também nesta segunda-feira, espaço de estudo, na sala AL 121, localizado no Primeiro Andar do Fórum Lafayette, em que se colocam à disposição do público interno ambiente e recursos tecnológicos favoráveis a uma aprendizagem satisfatória. No local foram instaladas 10 estações de estudo equipadas com computador para acesso ao ambiente EAD da Escola Judicial.
Na abertura da ação educacional, a coordenadora de gabinete da Direção do Foro de Belo Horizonte, Vanessa Lidiane Costa, agradeceu o empenho de todas as equipes que se desdobraram a planejar o ambiente de estudo e torná-lo realidade. Ela informou que os prestadores de serviço no Fórum Lafayette “poderão fazer o curso durante o expediente, em regime de escala, para que os postos de trabalho não fiquem desguarnecidos”.
Desembargador Renato Desch comentou a importância do curso para o adequado acolhimento às pessoas em situação de rua, destacando o papel da Escola Judicial nessa missão: “A Escola Judicial tem que ser protagonista, tem que ser ativista. É fundamental para a EJEF promover essa mudança e essa melhoria de atitude em relação, não só à recepção, mas ao acolhimento às pessoas em situação de rua”, enfatizou.
A Desembargadora Maria Luíza de Marilac, Superintendente do Núcleo de Voluntariado (NV-TJMG) e Presidente do Comitê PopRua/Jus, convidou a todos a aproveitarem o conteúdo e destacou a experiência da Escola Judicial no desenvolvimento de cursos com foco no atendimento. Após desejar que “todos possam tirar o melhor desse curso”, ela recordou: “Eu já fiz um curso sobre excelência no atendimento oferecido pela EJEF e indiquei aos meus funcionários, porque sempre valorizei o bom atendimento às pessoas”
O Juiz Diretor do Foro da Capital, Sérgio Henrique Cordeiro Caldas Fernandes, disse que: “o curso ajuda as pessoas a se colocarem no lugar das outras. Todo mundo que se empenhou para que acontecesse essa realização quer fazer a diferença, quer mudar a forma como as pessoas em situação de vulnerabilidade são tratadas e para melhor”.
O Juiz Auxiliar da Segunda Vice-Presidência, Carlos Márcio de Souza Macedo, ponderou que, quando procura o Judiciário, a pessoa “já tentou todas as alternativas e nada deu certo. Ela tentou todas as soluções possíveis e se aqui, na última porta, ela é mal atendida, ela perde a esperança”, analisou.
Marília Miranda, Coordenadora de Desenvolvimento Humanossocial (CODHUS) da EJEF, rememorou os esforços e o pioneirismo da iniciativa: “Desde agosto de 2022, as equipes da Escola Judicial, do Comitê PopRua/Jus e da Direção do Foro tem promovido rodas de conversa sobre o assunto. Todos se dobraram em torno da temática. Desta vez, não trouxemos essas pessoas ao Tribunal, nossas equipes foram às ruas, ouvir e buscar entender as principais angústias e necessidades de quem vive essa realidade. E mais do que isso, o curso tem como fonte o próprio público para o qual nós destinaremos o atendimento”.
A Coordenadora da CODHUS ainda comemorou: “É a primeira vez que a EJEF disponibiliza uma sala fora da Escola para que as pessoas possam realizar um curso. Essa iniciativa me marcou muito”.
Ana Paula Prosdocimi, Diretora de Desenvolvimento de Pessoas, disse que a sala é o resultado “de um olhar atento da equipe da Escola e do Dr. Sérgio Fernandes que permitiu propiciar aos colaboradores do Tribunal fazer o curso em condições necessárias para compreenderem o conteúdo proposto”.