Publicado em 29/10/2025.
A 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) realizou, na tarde de 28 de outubro, no Auditório do Tribunal Pleno, uma sessão solene em homenagem à desembargadora Maria Luíza de Marilac Alvarenga Araújo, que se aposenta após 32 anos de dedicação à magistratura mineira e 46 anos de serviço público.
Transmitida ao vivo pelo canal da Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (EJEF) no YouTube, a cerimônia reuniu magistrados, servidores, representantes do Ministério Público e convidados para celebrar o encerramento de uma trajetória marcada pela sensibilidade e pelo compromisso com o serviço público.
“Procurei conduzir minha vida com o lema de que vim ao mundo para servir”, afirmou a desembargadora ao agradecer as manifestações de carinho e relembrar momentos marcantes de sua carreira.

Segundo ela, o propósito de servir foi o que a conduziu do interior de Peçanha até o TJMG. “Nasci na roça, onde aprendi o valor do trabalho e da honestidade. Foi minha mãe quem me ensinou o caminho das letras”, contou.
Ao longo da carreira, a magistrada passou pelas comarcas de Rio Piracicaba, Itamarandiba, Coronel Fabriciano e Belo Horizonte. Também atuou em diversos cargos na EJEF, onde ministrou cursos de formação inicial e continuada para novos juízes e juízas. “A EJEF é simplesmente fantástica. Lá sempre me senti acolhida e amada por todos”, disse.
A desembargadora Maria Luíza de Marilac é superintendente do Núcleo de Voluntariado do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (NV/TJMG) e coordenadora do Comitê Local da Política de Atenção a Pessoas em Situação de Rua (PopRuaJud Minas Gerais), instâncias que, segundo ela, representam “uma das formas mais gratificantes de concretizar o propósito de servir”.
Reconhecimento dos colegas
O presidente do TJMG, desembargador Luiz Carlos de Azevedo Corrêa Junior, abriu a solenidade destacando o legado humano da homenageada.
“A desembargadora Marilac pratica muito mais do que distribuir justiça: ela distribui solidariedade, amor e carinho ao próximo”, afirmou.

“A magistratura que queremos é aquela em que juízes e juízas se preocupam com o semelhante e trabalham por uma sociedade mais justa e igualitária.”
O ex-presidente do TJMG, desembargador Gilson Soares Lemes, reforçou a importância do trabalho voluntário conduzido por Marilac.
“Por meio da desembargadora Marilac conseguimos fortalecer o Núcleo de Voluntariado do TJMG, com diversas ações voltadas a pessoas em situação de vulnerabilidade social. Essas iniciativas inspiraram o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a criar um ato nacional”, observou.
O desembargador Luiz Carlos Gomes da Mata lembrou o simbolismo da aposentadoria.
“É um momento de tristeza e alegria ao mesmo tempo: tristeza pela despedida de uma colega do calibre de Vossa Excelência, e alegria por vê-la encerrar a carreira no topo. Só somos eternos quando o nosso trabalho permanece — e o seu permanecerá”, afirmou.
A desembargadora federal aposentada Sônia Diniz Viana, colega e ex-professora da magistrada, recordou o início da trajetória de Marilac.
“Conheço-a desde que deixou Peçanha para cursar Direito. Sua trajetória foi brilhante e também desafiadora, porque julgar o próximo é tarefa que requer sabedoria. Hoje, ela encerra um ciclo com serenidade e fé”, disse.

O desembargador José Arthur de Carvalho Pereira Filho, também ex-presidente do TJMG, fez uma analogia poética:
“A desembargadora, à frente do Núcleo de Voluntariado, foi como uma mãe para diversas pessoas em situação de rua e em situação de vulnerabilidade social.”
Amizade e jornada compartilhada
A desembargadora Áurea Maria Brasil Santos Perez fez um pronunciamento emocionado, rememorando mais de três décadas de convivência profissional e pessoal.
“Conheci Maria Luíza em 1991, e, desde então, nossa amizade se tornou uma jornada fraterna. Fomos servidoras, magistradas, companheiras na EJEF e parceiras de caminhada. Ela é uma força serena e inabalável, com vontade indomável de servir e fazer o bem”, disse.

Segundo Áurea, o trabalho de Marilac ultrapassa os limites da jurisdição:
“Ela tocou vidas, inspirou colegas e iluminou caminhos. Seu legado continuará vivo em cada um de nós que trilhamos essa estrada de amor e serviço.”
— desembargadora Áurea Maria Brasil Santos Perez.
O procurador de Justiça Marco Antônio Borges relembrou um episódio marcante da época em que trabalhou com Marilac em Coronel Fabriciano.
“Durante uma rebelião com 340 presos, ela, sem levantar a voz, em tom sereno, porém firme, restabeleceu a ordem em minutos. Isso é autoridade verdadeira: uma magistrada com ‘M’ maiúsculo”, relatou.
A juíza Rosimere das Graças do Couto, presidente da Associação Mineira de Magistrados (AMAGIS), destacou a dedicação da magistrada.
“Você representa a força feminina e o espírito público. Jamais esquecerei o dia em que acabou a luz no Fórum Lafayette e você continuou as audiências à luz de velas. Assim é você: incansável.”

“Na magistratura, você encontrou o seu porto seguro. A magistratura não é apenas uma profissão conquistada, mas uma vocação que se aceita. E, no seu caso, essa predestinação já estava escrita nas estrelas”, afirmou o presidente da 3ª Câmara Criminal, desembargador Fortuna Grion, ao falar em nome dos colegas da turma julgadora.
“Somos felizes por termos compartilhado com você a nobre missão de julgar, e sua toga permanecerá como inspiração para as futuras gerações.”
Depoimentos de afeto e formação
O juiz Pedro Fernandes Alonso Alves Pereira ressaltou a atuação de Marilac como formadora de magistrados.
“Mais do que uma magistrada de excelência técnica, ela foi uma educadora. Formou gerações de juízes e deixou marcas em cada um de nós. Sua didática e generosidade tornaram-na uma referência na EJEF e no Tribunal.”
O defensor público Fernando Martelleto destacou o alcance social do trabalho da magistrada.
“Sua atuação foi além da jurisdição. Promoveu dignidade e cidadania, sendo sol e luz na vida das pessoas com as quais conviveu”, afirmou.
A desembargadora Teresa Cristina da Cunha Peixoto expressou gratidão pela convivência.
“Maria Luíza é acolhimento. Transcende a judicatura para abraçar os invisíveis, aqueles que não têm voz. Ela possui uma luz especial e um canal direto com Deus”, disse.

Representando a equipe do gabinete, a assessora Michele Monteiro Menezes falou em nome dos servidores que acompanharam a desembargadora ao longo dos anos.
“Trabalhar com a senhora sempre foi motivo de orgulho. Mais do que rigor e competência, a senhora sempre demonstrou generosidade. Nos ensinou que servir é um ato cotidiano e continuará sendo nossa candeia que não se apaga.”
Vozes da transformação
Em momento marcante da cerimônia, a integrante do Comitê PopRuaJud, Thaís Cristiane Nonato, compartilhou o impacto humano da atuação de Marilac.
“Vivi nas ruas por 45 anos e, graças à doutora Marilac, consegui mudar de vida. Ela me deu dignidade, me ensinou o que é ter um documento, um trabalho e esperança”, declarou.

Thaís, que hoje atua como agente social, disse que o trabalho da desembargadora “trouxe luz onde antes havia escuridão”.
“Essa mulher trouxe portas abertas. O Tribunal de Justiça, por meio dela e de sua equipe, mostrou que é possível integrar pessoas em situação de rua à sociedade com respeito e humanidade. Ela é uma mãe para muitos de nós”, afirmou, emocionada.
Homenagens
Entre as demonstrações de afeto, a desembargadora Áurea Maria Brasil Santos Perez presenteou a amiga com um livro simbólico.

“Pensamos em reunir artigos jurídicos, mas percebemos que algo mais parecido com ela seria um livro de cartas. ‘Cartas para Maria Luíza de Marilac’ traz mensagens de pessoas que ela tocou ao longo da vida no Tribunal”, explicou.
Além do presente literário, a homenagem também contou com a entrega de flores pelo juiz Sérgio Henrique Cordeiro Caldas Fernandes, diretor do Foro de Belo Horizonte, simbolizando o reconhecimento pelo trabalho conjunto em prol de pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Palavras de despedida
Em sua fala final, Maria Luíza de Marilac expressou gratidão por todas as vivências e superações ao longo da carreira.
“Antes de tomar posse como juíza, quase fui impedida por motivos de saúde. Venci o câncer e, desde então, vivi cada dia como uma confirmação dessa vitória”, contou.

Ela recordou com afeto a ajuda de colegas e familiares e destacou o apoio da desembargadora Áurea Brasil em momentos de timidez e insegurança.
“A amizade e a generosidade dela foram essenciais para o meu desenvolvimento pessoal e profissional”, afirmou.
Em tom sereno, dirigiu-se aos colegas e servidores:
“Minha trajetória foi intensa e repleta de aprendizados. Agradeço a todos que caminharam comigo. A magistratura sempre será uma missão de amor, coragem e compaixão.”
Currículo
Natural do distrito de Santa Teresa do Bonito, em Peçanha, Maria Luíza de Marilac graduou-se em Direito pela Faculdade Milton Campos e em Letras pela PUC Minas. Ingressou na magistratura em 1993, atuando em diversas comarcas do interior até chegar à capital.
No TJMG, também atuou como formadora e gestora na Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (EJEF) e, mais recentemente, como superintendente do Núcleo de Voluntariado (NV/TJMG) e coordenadora do Comitê PopRuaJud Minas Gerais, iniciativas que aproximam o Poder Judiciário das pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Mesa de honra
Compuseram a mesa de honra o desembargador Luiz Carlos de Azevedo Corrêa Junior, presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG); o desembargador Marcos Lincoln dos Santos, 1º vice-presidente do TJMG; o desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, 3º vice-presidente do TJMG; o desembargador Eduardo César Fortuna Grion, presidente da 3ª Câmara Criminal; o desembargador Carlos Henrique Perpétuo Braga, vice-presidente e corregedor do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG); o procurador de Justiça Marco Antônio Borges, representante do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG); e a juíza de Direito Rosimere das Graças do Couto, presidente da Associação dos Magistrados Mineiros (AMAGIS).





