Publicado em 01/10/2025.
Os conservadores-restauradores Maycon Felipe Amaral e Viviane Aparecida Silva, da Coordenação de Arquivo Permanente (COARPE), vinculada à Gerência de Arquivo e Gestão Documental e de Gestão de Documentos Eletrônicos e Permanentes (GEDOC) do TJMG, restauraram, ao longo de 15 dias, o retrato do desembargador Edésio Fernandes, patrono da Escola Judicial, a partir de doação feita por sua família.
A peça passou a integrar o acervo histórico da Escola Judicial, com curadoria e salvaguarda alinhadas às rotinas do Tribunal. O trabalho envolveu diagnóstico, higienização, recomposição do suporte e testes de tonalidade para a reintegração cromática.
Maycon Felipe Amaral explicou qual foi o ponto de partida do processo.
“A fotografia chegou até nós com sujeira e pequenos danos. Fomos contatados para realizar a avaliação do estado de conservação da peça, que necessitava de cuidados. A partir disso, elaboramos o primeiro diagnóstico”, contou o restaurador.
“Os principais cuidados envolveram a higienização, já que o quadro apresentava bastante sujeira superficial, com poeira e algumas manchas. Havia ainda perda de suporte. Por isso, realizamos a higienização e a reintegração da parte comprometida”, explicou.
Viviane Aparecida Silva detalhou o conceito técnico que norteou uma das etapas do processo de conservação.
“A perda de suporte acontece quando o papel do retrato se rasga, gerando uma lacuna visível, que foi a área tratada. Realizamos o enxerto e a reintegração cromática, procurando nos aproximar ao máximo da cor original do retrato”, disse.
Ao avaliar o estado de conservação do retrato, Viviane destacou os desafios específicos de uma fotografia de época:
“A restauração foi um desafio para nós, pois, embora trabalhemos com suporte de papel, nosso trabalho diário concentra-se mais em documentação do que em retratos e fotografias”, revelou.
“Outro desafio foi a moldura, que imaginávamos ser de uma cor mais escura. No entanto, à medida que avançávamos no tratamento, percebemos que se tratava apenas de sujeira. Foi uma surpresa para nós”, disse a restauradora.
Segundo ela, “a fotografia não apresentava muitos danos, apenas sujeira, algumas manchas e resquícios de tinta de parede, que eram apenas alguns pingos”, explicou, detalhando os desafios da reintegração e da recuperação do tom original das cores da fotografia.
“Foi um trabalho muito proveitoso”, garantiu.
Em relação ao cronograma, Maycon detalhou a linha do tempo da intervenção.
“No total, a restauração levou 15 dias, sendo que a higienização da moldura consumiu cerca de dois dias.”
Ele comentou que o tratamento do retrato — incluindo a higienização, o nivelamento do suporte para cobrir a perda e a reintegração — levou cerca de 10 dias, sendo a etapa mais demorada de todo o trabalho.
No campo da experiência com tipologias documentais, Maycon destacou a novidade:
“Foi a primeira vez que trabalhamos com fotografia. A maior parte do nosso trabalho diário envolve documentos, manuscritos e até mesmo tinta de datilografia.”
Ao comparar procedimentos, ele ressaltou as diferenças nas camadas e nos cuidados necessários para a reintegração:
“Embora o suporte seja o mesmo, há uma distinção. A fotografia geralmente possui uma camada — que pode ser de gelatina, dependendo da técnica utilizada”, explicou.
Maycon relatou que o trabalho de reintegração requer atenção especial a essa camada da fotografia, o que não se faz necessário em documentos de papel.
Viviane complementou: “Além da camada de gelatina, a fotografia possui uma camada de pigmentos que confere a cor, ao contrário do papel, que geralmente apresenta apenas a cor da tinta.”
O sucesso do trabalho resultou em uma exposição na sede da Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes, localizada na Rua Manaus, no bairro Santa Efigênia.
A Memória do Judiciário Mineiro (MEJUD), criada em 1988 e sediada no Palácio da Justiça Rodrigues Campos, preserva, pesquisa e divulga o acervo histórico do TJMG, coordena restaurações, inventaria peças e apoia comarcas na criação de salas de memória. A unidade também é responsável pela galeria de ex-superintendentes da EJEF.