“Precisamos reconhecer que a empatia pode criar uma revolução, não daquelas à moda antiga, baseadas em novas leis ou instituições, mas algo mais fundamental: a revolução das relações humanas.” A frase é do pensador e escritor alemão Roman Krznaric, criador da Biblioteca da Empatia.
Nos dias atuais, a promoção de valores como respeito, empatia, tolerância e antidiscriminação ganha cada vez mais relevância, principalmente em ambientes corporativos com diversas equipes numerosas. Reconhecendo a importância desses valores no ambiente de trabalho e na sociedade em geral, a Diretoria de Gestão da Informação Documental (DIRGED) promoveu, entre o final do mês de setembro e o início de outubro, uma série de cinco encontros, de que participaram servidores e colaboradores da diretoria, visando criar um ambiente onde todos se sintam valorizados, independentemente de sua origem, cor, religião, orientação sexual, ou identidade de gênero.
O último dos encontros programados aconteceu nesta quarta-feira, dia 4 de outubro, na Coordenação de Biblioteca (COBIB).
Fernando Rosa, Diretor Executivo da DIRGED, explicou que a iniciativa surgiu no momento em que os gestores notaram a ocorrência de alguns ruídos na comunicação e decidiram sensibilizar as equipes. “A orientação foi para que as equipes, de forma voluntária, participassem da conversa, sem formalismos, sem convocações. A participação é livre e todos podem se manifestar a qualquer momento”, esclareceu.
A estratégia foi desenvolvida pela servidora Simone Meireles Chaves, Gerente da Gerência de Arquivo e de Gestão de Documentos Eletrônicos e Permanentes do TJMG (GEDOC), com uso de recursos pedagógicos que fomentam a autorreflexão e diálogos abertos.
A inciativa é norteada pela Resolução CNJ nº 351 de 28/10/2020, que estabeleceu diretrizes importantes para a promoção de um ambiente de trabalho inclusivo e livre de preconceitos.
Roda de conversa sobre intolerância: diálogos sobre respeito e empatia
Os encontros foram realizados em todas as unidades da DIRGED, com uma breve pausa no trabalho. Simone Meireles Chaves, na condução das rodas de conversa, utilizou estratégia de sensibilização, visando estimular a empatia e a consciência em relação à natureza humana, que é essencialmente diversa. Primeiro, participantes assistiram a um vídeo e realizaram leitura de poema sobre o tema.
Em seguida, para fomentar o diálogo, eles formaram grupos espontaneamente. Os integrantes receberam uma lista de perguntas cujas respostas suscitavam discussão acerca de temas como diversidade, preconceito, discriminação e estratégias para construir uma equipe mais unida e inclusiva.
Com essas metodologias dinâmicas, os participantes foram levados a refletir sobre formas de intolerância, maneiras de tornar a convivência mais harmoniosa, projetos ou iniciativas que podem ser desenvolvidas por eles mesmos e seus superiores hierárquicos para criar um ambiente mais respeitoso.
Segundo a gestora, o objetivo é criar oportunidade para diálogo, autorreflexão, autoanálise e questionamento de estereótipos, além de estimular a aprendizagem a partir da perspectiva do outro, por meio de conversas abertas e respeitosas.
Falar, ouvir e ser ouvido é terapêutico
A ação dura cerca de duas horas. Após a exibição do vídeo, da leitura do poema e das perguntas e da conversa em grupo, os participantes vão à frente expor suas observações e relatar situações importantes sobre os assuntos tratados. Em encontro realizado na Coordenação de Arquivo da Secretaria do Tribunal de Justiça (COARQ), uma servidora relatou a seguinte experiência: “Há tempos, trabalhei com uma pessoa que era constantemente tratada pelo apelido. Somente após sua saída, os colegas ficaram sabendo que ela não gostava de ser chamada daquela forma. Mesmo desconfortável, ela suportou. Nesse caso, ninguém nunca teve a sensibilidade de perguntar se ela se sentia bem com aquele tratamento”, relatou.
Ao discutirem esse episódio, os participantes chegaram à seguinte conclusão: deliberadamente, alguém passou a chamá-la por aquele apelido. Sem ter forças para falar que aquilo a incomodava, ela permaneceu calada. A partir dessa reflexão, todos concordaram que o ideal é que as pessoas indaguem às outras como elas gostariam de ser tratadas. “Uma simples pergunta resolveria: como você prefere ser tratada?”, disse uma colaboradora.
A gestora Simone Meireles pontuou que em todos os setores por onde passou recebeu avaliação positiva dos participantes em relação à exposição dos incômodos e das opiniões. “Ao colocarem para fora aquilo que as incomodam e ao relatarem suas experiências, as pessoas disseram se sentir mais leves. Ao se ouvirem e serem ouvidas elas ressignificam aquela vivência e se livram do peso imposto a si mesmas. Paralelamente, quando ouvimos a dor do outro, temos a oportunidade de desenvolver a empatia, prevenimos conflitos, reduzimos o isolamento e, consequentemente, promovemos o bem-estar mental de todos os envolvidos”.
Combate a rótulos e estereótipos
Com base no vídeo apresentado pela gestora, colaboradores e servidores levantaram o seguinte pontos de reflexão: pessoas rotulam as outras e criam estereótipos para justificar julgamentos, muitas vezes, definindo quem é bom ou mau sob suas próprias perspectivas.
Um colaborador expôs questões relativas a religião e ressaltou que falta conhecimento e sobra julgamentos, quando alguém não se identifica com a forma com a qual o outro pratica a fé.
Sobre esse ponto, todos chegaram ao consenso de que cada um busca a Deus à sua maneira, sendo adequado também respeitar quem não acredita em um ser divino nem pratica cultos religiosos. Uma servidora ressaltou a ótima convivência vivida com um colega em outro local de trabalho onde passou antes de ingressar no tribunal. “Esse rapaz era ateu e, contrariando o estereótipo de que só pessoas religiosas praticam o bem, ele era sempre o primeiro a ser solidário, a ajudar, em qualquer situação difícil vivida pelos colegas. Ele era muito prestativo e caridoso”, relembrou.
Reflexão e mudanças
Giselle Cesário, Coordenadora de Área, acredita que a iniciativa abriu portas para o diálogo e vai servir de ensinamento para todos. “Esse movimento nos leva a refletir que a gente precisa se policiar no nosso dia a dia, que a gente precisa pensar melhor sobre as nossas ações e não se calar diante das injustiças, diante do que a gente entende que realmente pode ser melhorado”, concluiu.
Débora Melo, Auxiliar de Arquivo, considera cada vez mais importante refletir e caminhar para uma mudança positiva em relação aos assuntos tratados. “Porque, no automatismo do dia a dia, a gente não pensa no que pode incomodar o outro. E refletir e mudar atitudes são muito importantes para gente começar a viver melhor em sociedade”, ressaltou a colaboradora.
André Coelho, Auxiliar de Arquivo, avaliou que a dinâmica ganha ainda mais força por ter partido da visão sensível dos gestores.
“Eu acredito que é muito importante algo desse tipo vir das pessoas que estão acima de nós. Porque, às vezes, no dia a dia, a gente lida com as questões, porém, sem conseguir um debate amplo e franco. Perceber que essa iniciativa veio deles é muito legal. Isso ajuda muito a ampliar o interesse de todos pela melhoria na convivência.”
Denise Moreira, Bibliotecária, considerou a conversa muito enriquecedora. “Principalmente nestes tempos extremos e polarizados que estamos vivendo, é muito importante trabalharmos para acabar com o racismo, o machismo, a homofobia e inúmeros preconceitos que dominam nossa sociedade. Instrumentos como esta dinâmica deveriam ser replicados em todo o ambiente do TJMG”.
Resultados
Fernando Rosa relata que os resultados já começam a aparecer, à medida que os funcionários demonstram maior compreensão e respeito pelas diferenças individuais. “Estes encontros não são apenas uma iniciativa interna, mas também um compromisso com a sociedade. O retorno tem sido muito positivo. Na última semana, em visita ao Arquivo Central, colaboradores me abordaram para elogiar a iniciativa. Acharam de grande valia a oportunidade de escutar e falar sobre esses temas”.
Ele completou: “Seria muito bom se a prática fosse absorvida por outras áreas, pois entendo que, em momentos como este, oportunizamos a solução de conflitos velados, esclarecendo que algo para alguns pode parecer normal, para outros pode ser um incômodo ou uma ofensa”.
Os próximos encontros prometem continuar a inspirar mudanças positivas e a fortalecer a cultura de respeito e empatia, criando um ambiente mais inclusivo para todos os servidores e colaboradores.